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Mostrando postagens de abril, 2018
Límia Gallump se expressava nas redes sociais através de uma personagem, Dália Regina, a original. Amava todas as novas novidades, tanto bigger, quanto better. Límia Gallump era muito reprimida e suscetível à opinião alheia, já Dália Regina era uma demônia pública e gostava de botânica.   Suas mais recentes pesquisas giravam em torno das rosas antropófagicas, plantadas especialmente para esse fim, e da resistência das dálias alcoólatras ao vento sudoeste. A palavra surpreendia Límia, mesmo quando estava preparada como Dália. O que te anima é a diferença. O que te diferencia é o que te anima. Suburbano convicto. New radicals don’t let it go. Sistema negro. Consciência humana.
ia ter que tomar coragem como um líquido espesso, um bom vinho. precisava entrar naquele avião. todas as promessas comprimidas e pressurizadas ali, naquele pássaro de metal. cruzando continentes. cruzando destinos. era melhor viajar à noite porque não dormia melhor. tinha bebido. o voo atrasou. muitas horas sem comer. um cansaço que desaguava em medo. frio na barriga. suor frio. frio. pressentiu aquela onda de desequilíbrio rondando a cabeça a partir do umbigo. maremoto hidroeletrolítico baixa de glicose soro caseiro na cafeteria por favor. pavor. iria arremeter? olhou pra trás e viu a esteira rolante levando, a vida a levando de volta pro mesmo ponto. a felicidade é o melhor tempero. maria, a aeromoça de aspecto familiar, a ensinou a respirar pela barriga. a soltar bastante o ar. a soltar tudo aquilo que a fazia tremer em ondas. também pediu que fechasse os olhos e investigasse o que tinha no seu estômago e o que tinha no seu coração. sem sismar. se ali estivesse tudo bem, ir
17 horas. 14 graus em lisboa. 28 em angra dos reis. 16 em sevilha. 9 em agerola. 23 em montevideo. 14 em veneza. 5 em nova york. o que lucía, com acento no i e sotaque de barcelona, mais gostava de fazer era viajar. qualquer modalidade de viagem. a pé, de ônibus, barco, avião, espiritual, de ácido, de bicicleta, interestadual, extraterrestre, pra dentro, pra fora. qualquer uma. por isso também amava aeroportos. a ponto de ir trabalhar lá, num dos piores empregos que tivera na vida: vendedora de freeshop, nos dias em que não é garçonete da tasca ou do bistrô. adorava ver os rostos, um pra cada pessoa no mundo, e são muitos bilhões delas! se assombrava com isso. o aeroporto contribuía com esse sentimento e alimentava ainda mais outro: o deslumbre pelo movimento. lucía quase nunca parava e gostava de ver tudo se mexer. árvores, carros, lesmas, até as pedras tinham movimento. estava sempre entre um ponto e outro e nesse estado se mantinha até que parava e constatava que a viagem tin
Elton é chaveiro, mas abre qualquer coisa. Se interessa principalmente pelos tipos de chaves que abrem coisas que não existem mais. Trabalha na mesma esquina desde os cinco anos de idade quando começou a acompanhar o pai, que acompanhou seu próprio pai, que por sua vez acompanhou o pai que também acompanhou aquele que, se dizia, era seu pai. O que fazia daquela esquina um pedaço da sua carne. Elton John, ariano e vegetariano, assim se chamava porque sua mãe viu um show, fazia  muito tempo, na Praça de Espanha, e se apaixonou. Não pelo Elton (John), mas pelos óculos que usava, pelas roupas brilhantes que vestia, e pela mulher que transbordava daquela pele de homem, assim como das suas calças apertadas e do suor que borrava uma parte de sua maquiagem. Elsa se encantou. Por causa desse tesão repentino, que lhe consumiu as poucas calorias que restavam, a mãe de Elton baixou a própria pressão e se fixou noutros óculos (como uma tábua de salvação). Antes de desmaiar lhe sussu
um homem dobra uma esquina. faz tanto esforço que se acentuam os vincos do rosto e da camisa ao ponto dos passantes perceberem. uma mulher procura uma língua em que possa falar. ela também se veste toda de preto porque combina com a escuridão em que vive da 8 às 16h. o homem e a mulher se encontram para um café. nele derramam açúcar, que no entanto não explica nada. a mulher tinha o ventre revolto de ideias e medo e por isso pediu para ir embora. … o dermatologista sempre dava nome pras coisas, mas nunca explicava o que eram. ... estava lhe faltando um caminho, embora percorresse muitos, todos os dias. ... a mulher que se chamava dora, diadora, chegou em casa e faltava luz. faltava na verdade quase tudo, mas naquele dia era a luz que a incomodava. embora combinasse com o negro de sua roupa. outra coisa que aconteceu foi q choveu. muito. e outra coisa foi que sua chave emperrou. sem aviso prévio. dora sabia prever coisas. aquilo não. mas tinha certeza que tinha