Me lembro, numa idade da qual não tenho lembrança, deste minúsculo fato, tão corriqueiro, tão usual. Eu também era pequena, ou me sentia assim, e fui brincar na casa da melhor amiga. Melhor era ser muito bom, mas pra melhor sempre tinha também muita expectativa. A mãe da melhor era professora, brava, exigente, elegante, tipo de pessoa que mete medo e ao mesmo tempo trai. Naquele dia, ela preparava enfeites pra uma festa e nos chamou pra ajudar. A tarefa era específica: pintar uns coelhinhos de papel, vários deles, que decorariam doces e brindes. Havia padrões de cores e contornos pra seguir, mas naquele momento, por alguma razão que me era desconhecida, isso não me pareceu importante. Mergulhei na tarefa livre e sem medo. Finalizado o projeto não me contenho de ansiedade, confiro o coelho da amiga e a ficha cai. Cheia de respeito, admiro sua caprichada habilidade de copiar. Tenho um lampejo de pensar que o pensamento de estar fazendo diferente me passou pela cabeça, mas seguiu adiante....