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você fala sem parar e da sua boca sai uma massa dourada e metálica e pesada que se espalha na frente da sua cara e primeiro surpreende e parece até bonito, mas vai ficando feio e sério e parece um trombone sólido e sua boca fica aberta que nem a de um peixe e você espanca o vômito sólido de metal e ocupa o espaço das pessoas e você acha que encontra alguém ou alguma coisa, mas você fala sem parar e não ouve sem parar então sua palavra vômito fica confinada no espaço entre você e a próxima pessoa e a próxima coisa e você disfarça e grita mais e pensa que tudo que não é você é inadequado, insuficiente e roto e pensa que mulher é uma rachadura entre as pernas, um abismo que deve ser envolto por bastante carne justamente pra tapar o abismo, mas essa carne tem que ser boa e bela e tesa só pra você olhar e falar e tocar e quem não for assim merece seu desprezo e seu trombone e por isso você só dá atenção pra gente que tem um pino entre as pernas e pra você o pino é bom e o abismo é o vazio e mete o pino no vazio pra ter a sensação de que alguma coisa existe, que você existe, mas agora o trombone sólido fica grande demais e não pára de crescer em frente à sua boca patética que não consegue mais parar de falar da sua revolução que é dar a volta em torno do próprio umbigo e seu ouvido se fecha e cai e agora você é só uma boca com um trombone pesado e descomunal e o trombone também cai e sua boca agora é só uma coisa murcha e vazia e você não consegue mais emitir som porque o eco é seu pensamento e você esqueceu de dizer. e você pega de novo o trombone no chão e chupa e tenta engolir tudo que você é pra não se perder porque você não confia em nada nem ninguém, mas tem um pino e se junta a outros pinos pra ser feliz e faz sinfonias e agora guarda a barriga deformada por seu trombone interno que era você e agora é só um grito de desconfiança e eu aceito e eu me afasto pro meu abismo e tento cair livre nem que seja por alguns instantes antes de me espatifar e desaparecer sem ouvido e sem boca porque o único grito que sai é o de letra e que minha raiva e meu medo me façam um dia uma pessoa melhor.

Comentários

Jonga Olivieri disse…
Gustave Courbet é o autor deste quadro.
Aliás, Felipão precisa saber disso. Ele está confundindo a ferramenta. hehehe!
Daninjutsu disse…
desculpe a minha sina e meu pino que em outra figura lhe fizeram infeliz.
é quase uma maldição ser insensível e leviano, porquanto muito comodo
Alfredo Rangel disse…
Pinos e abismos...
Erotismo e fala.
Parabéns

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preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
pra tudo quanto é lado é uma porrada de gente querendo ser compreendida ao mesmo tempo que não tá nem um pouco afim de gastar o tempo necessário pra compreender ninguém, nem mesmo alguém que se acha importante demais pra ser visto, percebido por você, que já tá de saco suficientemente cheio de não ser compreendido por ninguém e por isso precisa antes de mais nada que te compreendam e é isso aí e foda-se porque só aí, eu vou poder te olhar. ter tempo de te olhar. você aí seu babaca, pode olhar pra mim agora. a ordem da compreensão é minha. o mundo é cão. e vai te dizer: quem é você? aí você vai renascer. esquece o cara que tava falando com você. senta. respira. fuma até um cigarro. fuma dois. e vai perceber que a parada que mais quer evitar no mundo é a rigidez e o medo. o medo do caralho que enfeia as vidas, as veias e as pessoas. o medo que machuca muita gente de morte. quero um tombo bem dado e sangrante. que doa de viver. que machuque de tesão. ...