deveria ser permitido gritar bem alto quando você atravessasse esquinas e sentisse dor. faz bem uns dez anos que não nos vemos. de lá pra cá estive com você muitas vezes. outra coisa que fiz foi usar as ferramentas que me deu, não necessariamente na ordem dos aniversários, mas usei todas elas a ponto de conseguir construir novas. totalmente originais. talvez você não reconheça algumas, mas elas são certamente suas e algumas já são até minhas também. teve um momento em que me mudei pro presente. não sei se te avisei, não deixei endereço. isso porque não teve jeito e, por mais que tentasse, não consegui me livrar do imutável metro cúbico que meu corpo ocupava. insistia muito em ocupar. não importa o que eu fizesse, não importa pra onde eu fosse, debaixo do meu pé sempre tinha chão. e isso significava que você existia. mesmo que outra pessoa não quisesse. mesmo que outra pessoa não gostasse.
era melhor então que se fizesse alguma coisa.
um homem gritou: quem são vocês? os loucos que enterraram o futuro, lhe fizeram um grande funeral, lhe deram uma grande banana, lhe disseram adeus?! e como ousam? uma mulher me esclareceu: ainda bem que ele era diferente porque diferente é tudo que não é você, mas às vezes, e é na grande maioria das vezes, diferente é você e é também. um monte de diferente fazendo indiferença. quem diria, disse eu. faz tempo que eu me pergunto essa pergunta, ela retrucou. qual a diferença que faz?
teve um dia, logo depois de existir, que eu passei a ser, mas era uma pessoa que eu não era e era assim por mais que eu fosse. fiquei extremamente confusa com essa situação. ser afinal serviria pra que. não, não se trata de servidão, disseram. esclareceram também que é pra vestir a vida e você poder ver.
e se eu pisar mais forte? nem assim o chão cede. e se toda a minha estupidez também for a sua? quem sabe assim nos tornamos grandes amigos. quem sabe assim o que me difere talvez faça alguma diferença que também te diferencie. porque sim, somos todos estúpidos. cada qual coberto das mais sinceras e elegantes explicações. adiando o momento exato, o único em que você pode caber.
ela nunca gostou muito de ocupar espaço. o que significa que nunca gostou de briga. por isso também tinha preferência por esportes individuais. se fosse pra competir com alguém que fosse consigo mesma.
a dor que dá no dente é simultaneamente uma dor que dá em gente. virou outra esquina e viu na calçada um homem dentro de uma caixa de papelão. homem caixa. um a um viu homens entrando em caixas. a de papelão era privilégio dos pobres. desconstruiu mentalmente a sua e seguiu imediatamente seu caminho. algo a fazia caminhar. da sola dos sapatos uma pressão que nascia embaixo. ao rés do chão. num universo reto, há sempre muitas linhas a traçar.
era melhor então que se fizesse alguma coisa.
um homem gritou: quem são vocês? os loucos que enterraram o futuro, lhe fizeram um grande funeral, lhe deram uma grande banana, lhe disseram adeus?! e como ousam? uma mulher me esclareceu: ainda bem que ele era diferente porque diferente é tudo que não é você, mas às vezes, e é na grande maioria das vezes, diferente é você e é também. um monte de diferente fazendo indiferença. quem diria, disse eu. faz tempo que eu me pergunto essa pergunta, ela retrucou. qual a diferença que faz?
teve um dia, logo depois de existir, que eu passei a ser, mas era uma pessoa que eu não era e era assim por mais que eu fosse. fiquei extremamente confusa com essa situação. ser afinal serviria pra que. não, não se trata de servidão, disseram. esclareceram também que é pra vestir a vida e você poder ver.
e se eu pisar mais forte? nem assim o chão cede. e se toda a minha estupidez também for a sua? quem sabe assim nos tornamos grandes amigos. quem sabe assim o que me difere talvez faça alguma diferença que também te diferencie. porque sim, somos todos estúpidos. cada qual coberto das mais sinceras e elegantes explicações. adiando o momento exato, o único em que você pode caber.
ela nunca gostou muito de ocupar espaço. o que significa que nunca gostou de briga. por isso também tinha preferência por esportes individuais. se fosse pra competir com alguém que fosse consigo mesma.
a dor que dá no dente é simultaneamente uma dor que dá em gente. virou outra esquina e viu na calçada um homem dentro de uma caixa de papelão. homem caixa. um a um viu homens entrando em caixas. a de papelão era privilégio dos pobres. desconstruiu mentalmente a sua e seguiu imediatamente seu caminho. algo a fazia caminhar. da sola dos sapatos uma pressão que nascia embaixo. ao rés do chão. num universo reto, há sempre muitas linhas a traçar.
Comentários
Adoro suas palavras.
abraços,