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a porra da vida

ou esporro fudido de gozo na boca é outro e essa é a coisa

antes que a vaca tuça é necessário que você engula, essa porra desse medo que te incendeia. porra é bom, fogo também, mas volto a repetir que a porra do medo quando esporra na tua cara, na tua vida, na tua esquina, é ruim. e também não é legal e também não te ajuda e também não te protege. só te fode. fode garotão. mas fode gostoso. e não adianta reclamar que pra vida não há níveis seguros, gato. nem pra você, gata. e aí você olha na rua e vê uma porrada de coisas, mais uma porrada de pessoas, uma porrada de uma pessoa, muita porrada nas pessoas e vê que na verdade não tem verdade nenhuma que lhe caiba ou que lhe explique ou ainda que dê conta de tanta coisa absurda, porque é isso aí, é tudo absurdo pra caralho e nenhum esporro moderno conseguiu mudar isso ainda e aí é essa chuva de porra de um monte de gente querendo amar. e é tudo isso aí. e a singeleza das pessoas se arrumando pra sair pra passear, no domingo, com sua família, bate na tua cara como um soco dos infernos, a parada mais singela do universo, como é que pode isso, triste demais a solidão de cada um, porra. se comunica direito, porra, você aí. é, você, mesmo. você que também sou eu. veja você que, porra, caraca, a gente é frágil pracacete. e eu preciso me incluir nisso também. eu preciso me incluir várias coisas e excluir também. vamo excluindo tudo. tudo aquilo que não é você, veja você. também. um desfile de gente. passando, passando bem na minha frente, bem na minha cara. e eu ainda só consigo pensar que, porra, não importa as escolhas que o outro cara tenha feito ou o jeito que ele tem, teve ou terá, ou a cara que ele ostenta ou o luxo que ele deseja, todo mundo, digo como o todo de todo um mundo, todas as criaturas geneticamente semelhantes e possíveis  que habitam a porra da face dessa terra querem é ser amados, porra! não tem certo, não tem errado, não tem lado. valendo sempre e somente aquilo exatamente que te acontece. que acontece com todo mundo, todo dia, toda hora, todos os segundos da porra desse tempo que eu e você temos o privilégio de simplesmente ter. grandecíssimos filhos de uma grande da puta. o puta orgasmo. a porra da vida.

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preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
pra tudo quanto é lado é uma porrada de gente querendo ser compreendida ao mesmo tempo que não tá nem um pouco afim de gastar o tempo necessário pra compreender ninguém, nem mesmo alguém que se acha importante demais pra ser visto, percebido por você, que já tá de saco suficientemente cheio de não ser compreendido por ninguém e por isso precisa antes de mais nada que te compreendam e é isso aí e foda-se porque só aí, eu vou poder te olhar. ter tempo de te olhar. você aí seu babaca, pode olhar pra mim agora. a ordem da compreensão é minha. o mundo é cão. e vai te dizer: quem é você? aí você vai renascer. esquece o cara que tava falando com você. senta. respira. fuma até um cigarro. fuma dois. e vai perceber que a parada que mais quer evitar no mundo é a rigidez e o medo. o medo do caralho que enfeia as vidas, as veias e as pessoas. o medo que machuca muita gente de morte. quero um tombo bem dado e sangrante. que doa de viver. que machuque de tesão. ...