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escrever pra extraviar

escrever pra não explodir

explodir antes de escrever


é preciso ser desfeito

eu preciso ser desfeita

eu preciso achar um motivo

porque tudo


o tempo todo

te puxa

te espanca

te confronta

te pede

pelo amor de deus


pra você ser infeliz

sofre, filha


sofre filha da puta

gruda nesse seu alicerce

escolhe um parede bem boa

um tipo que te divide

atormenta e bendiz

sua maldita e estonteante

segurança


obedece a quem te ama

come pra não mofar

corre pra não murchar


e você, bêbado

de paixão

intensidade

perplexidade

fica aí a expor essa pele

quanta vergonha

tentando em vão sentir

nem que seja alguma coisa

alguma outra coisa

que te faça entender

porque


porque não há motivos que bastem

basta que haja você

***


às demandas atropelantes:

vendam-se sem impostos

ao governo geral

do teu desgoverno

descentralizado e absoluto

absolutuamente nada

resolutamente real

avassaladoramente viva

não importa o que

***


exercícios miméticos pensantes

no que ser a seguir

com você


nosso caos

é uma casa

nossa caso

é nossa casa

de caos

Comentários

capiteo disse…
porra nega, nosso caso, nosso caos, tudo mesmo bem eu e vc.

soltou a mão, avassalou.

puxa todo mimetismo e explode.

amor
capiteo disse…
aliás, o porvir tá devenindo...

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preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
pra tudo quanto é lado é uma porrada de gente querendo ser compreendida ao mesmo tempo que não tá nem um pouco afim de gastar o tempo necessário pra compreender ninguém, nem mesmo alguém que se acha importante demais pra ser visto, percebido por você, que já tá de saco suficientemente cheio de não ser compreendido por ninguém e por isso precisa antes de mais nada que te compreendam e é isso aí e foda-se porque só aí, eu vou poder te olhar. ter tempo de te olhar. você aí seu babaca, pode olhar pra mim agora. a ordem da compreensão é minha. o mundo é cão. e vai te dizer: quem é você? aí você vai renascer. esquece o cara que tava falando com você. senta. respira. fuma até um cigarro. fuma dois. e vai perceber que a parada que mais quer evitar no mundo é a rigidez e o medo. o medo do caralho que enfeia as vidas, as veias e as pessoas. o medo que machuca muita gente de morte. quero um tombo bem dado e sangrante. que doa de viver. que machuque de tesão. ...