hoje o dia começou com anatoli e eu soube que seria diferente. um nome russo. um vendedor de miríades coloridas. um oásis de inutilidades. um cavaleiro espacial perdido na marquês de abrantes. ralinho de banheiro panela coador de café etiqueta funil ralador lápis de cor corrente catavento. multicolorido, ele era da cor da prata. me deixou fotografar, mas quase não se deixou falar. era radiante e tímido. minhas perguntas evaporaram no ar. só respondeu que sim. e que se chama anatoli.
preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
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