abram seus armários e janelas e portas e passagens e frestas e atalhos e caminhos. se as vozes ficarem presas, elas desafinam. ofereçam ar a quem tem sede e comida boa a todos os passantes. os passos que se jogam nas esquinas são de tipos muito variados. todos dançantes. foram abolidas várias coisas supérfluas, do nada, como quem come canjica ou melão. o cheiro da chuva dessa vez vai chegar acompanhado do de mar e do de café. liliberdade, corpo de festa, raízes que ascendem e decolam porque não sabiam voar, mas sabiam roubar peixe do homem que manda. pontos brancos muito juntos formam páginas pra escrever. com poesia sempre acontece. com querer se amam as coisas todas. com vento é um ar que viaja e solta.
preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
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