todo mundo sempre acaba precisando de um café. todo mundo sempre precisa de alguma coisa. there are clouds in my coffee. tem nuvens no meu dia e todo mundo precisa de alguma coisa. todo mundo precisa da nuvem e do café que acontece à tardinha. como cerveja, brócolis, abobrinha e coentro. coisas que acontecem. o amaro. o negro. o cheiro. a memória. do aroma que subia do quintal do vizinho que torrava café perto da casa da vó. hortênsia chuva maresia refogado. mistério quintal. café conforto. amargo regresso. matriz, raiz, nariz. sinto falta do que não posso. do que não vejo. desejar e beber. desejar e comer. desejar e fazer. não. não pode. a falta e o limite. danço com eles. e mesmo assim me falta esse café. me falta a fada. quando me falta também te descubro. tiro um véu ou meia dúzia deles. no lugar do café, um chá. no lugar da birita, uma conversa. no lugar do alface, o brócolis. no lugar do amor, não tem o que substitui o amor. também não tem o que substitui você. num lugar sempre tem, noutro não. cheio e vazio. somos cheios e vazios de café que variam segundo a maré e a tua lua. nós somos simples variações. de manhã eu me modero um café. de tarde me inundo. à noite eu enlouqueço a sus pés. a seco. há vácuo. respiro seu cheiro e mais tarde tomo um trago. um trato. um corto, sempre que possível. denso e forte. uma bôrra borra o futuro passado no coador. expresso. rápido. prazer.
preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
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