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ia ter que tomar coragem como um líquido espesso, um bom vinho. precisava entrar naquele avião. todas as promessas comprimidas e pressurizadas ali, naquele pássaro de metal. cruzando continentes. cruzando destinos. era melhor viajar à noite porque não dormia melhor. tinha bebido. o voo atrasou. muitas horas sem comer. um cansaço que desaguava em medo. frio na barriga. suor frio. frio. pressentiu aquela onda de desequilíbrio rondando a cabeça a partir do umbigo. maremoto hidroeletrolítico baixa de glicose soro caseiro na cafeteria por favor. pavor. iria arremeter? olhou pra trás e viu a esteira rolante levando, a vida a levando de volta pro mesmo ponto.

a felicidade é o melhor tempero. maria, a aeromoça de aspecto familiar, a ensinou a respirar pela barriga. a soltar bastante o ar. a soltar tudo aquilo que a fazia tremer em ondas. também pediu que fechasse os olhos e investigasse o que tinha no seu estômago e o que tinha no seu coração. sem sismar. se ali estivesse tudo bem, iria sobreviver. a cabeça, esse sim era o lugar que dava o que falar. apesar da fome, não conseguiu comer. coca cola é o pior e o melhor remédio. mais dez horas de voo. uma porta que não podia se abrir. um dia que iria finalmente chegar. o novo, sempre o novo.


uma escada, um túnel, um ônibus. duas longas filas. travessias em busca de luz e saída. nascimento. bastava uma saída, um vento soprado a favor no meio da tempestade. tinha conseguido atravessar o mar, chegar na terra das lâmpadas amarelas. ali deveria ser o seu lugar.

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preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
pra tudo quanto é lado é uma porrada de gente querendo ser compreendida ao mesmo tempo que não tá nem um pouco afim de gastar o tempo necessário pra compreender ninguém, nem mesmo alguém que se acha importante demais pra ser visto, percebido por você, que já tá de saco suficientemente cheio de não ser compreendido por ninguém e por isso precisa antes de mais nada que te compreendam e é isso aí e foda-se porque só aí, eu vou poder te olhar. ter tempo de te olhar. você aí seu babaca, pode olhar pra mim agora. a ordem da compreensão é minha. o mundo é cão. e vai te dizer: quem é você? aí você vai renascer. esquece o cara que tava falando com você. senta. respira. fuma até um cigarro. fuma dois. e vai perceber que a parada que mais quer evitar no mundo é a rigidez e o medo. o medo do caralho que enfeia as vidas, as veias e as pessoas. o medo que machuca muita gente de morte. quero um tombo bem dado e sangrante. que doa de viver. que machuque de tesão. ...