uma parte importante do ato de procrastinar ou mesmo transferir parece ser a ideia de que a verdadeira felicidade, a verdadeira alegria, o verdadeiro job, o verdadeiro projeto, o verdadeiro seja lá o que vc deseja, está sempre em outro lugar, outro país, outra pessoa, outra situação, outro momento, delegando ao absoluto vazio a chance de encontrar o quer que seja, e adiando indefinidamente o fato de que o que vc precisa está e sempre estará onde vc está, no exato instante em que se encontra, no que está fazendo agora, no que vem fazendo desde que vc se entende por quem vc sempre foi.
preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
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