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As coisas simplesmente acontecem.
Na calçada do prédio comercial, dois homens, isolados em pensamentos bolha, chupam cigarros como o peito de suas mães. Na empresa não é permitido fumar. Na empresa não é permitido ser.
Faz diferença.
Na esquina, o morador de rua porta um espelho e um pente com o qual modela cuidadosamente seus cabelos crespos e bicolores, meticulosamete divididos ao meio, uma espécie de guarda-chuva.
Faz frio.
O vazio na barriga estimula o homem se embelezar, organizar seus fios para que algo se aqueça. Para que de algo se esqueça.
Faz fome.
Na rua, uma família transforma lixo em mercadoria, transforma a esquina em sua moradia, transforma o cachorro em seu amigo.
Faz bem.
Na barraca do frango, seu Manuel, após operação de catarata, um deslocamento de retina e um deslocamento da rotina, já não enxerga o ovo quebrado nem a quantidade de troco. Espera um freguês. Espera uma cirurgia. Espera.
Faz tempo.
São muitos os Manoéis. 
O que é porteiro do prédio é também cego de um olho. De manhã varre a calçada. De tarde planta maracujás que escalam árvores, cuida do jardim, cuida do filho, cuida. De noite se veste de chapéu, desce a montanha e vende produtos na horizontalidade da praça com nome de santo.
Os frequentadores da praça consomem garrafas, consomem produtos, consomem drogas, consomem suas vidas, consomem.
O ex-açougueiro é também antigo, resistente, doce como os doces que troca por afeto, que troca por dinheiro. E tem tempo que não aparece. Deixa um vazio no lugar que ocupava.
Faz pensar.
Um velho sem nome cruza o caminho e me faz tropeçar. Alterado (em sua trajetória), xinga alto e pergunta se sou cega como um Manuel.
Procuro ver.
Faz sentido.

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