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antes de agora, o que significa algum tipo de tempo atrás e a fronteira é sempre tênue, eu não tinha condição de gostar de jazz e me lembro disso com uma nitidez desconcertante. condição no sentido de que era completamente incompetente. e não me refiro aqui a algum tipo de competência contemporânea que te distingue do outro a ponto de atropelá-lo. falo de uma competência que te permite perceber, sentir, viver, escolher, entender. eu não sabia que era um texto, uma história, trocentas nuances, vidas e vozes. conversando, gritando, chorando, rindo, falando. o equilíbrio distante, a delicadeza e violência, arrebatamento, atravessar um linha entre dois pontos, mergulhar no maior dos abismos, a coragem de tentar. fazer. florescer. o mesmo fato que você vê, visto de dentro de outra pessoa. o fato que você não vê, visto de dentro de você, por outra pessoa. o outro fato que você vê, visto de dentro do outro em relação a você. que me vê do outro lado. contra a lei da gravidade, notas que flutuam, que apedrejam, que acariciam, que desnorteiam. à inversão do norte para que não rime com morte. sentir cheiro de terra molhada, olhar a nuvem passar, despertar, dançar, gozar, ver a sombra da nuvem no chão. ver albatroz cruzar o céu. um tomate pra cumprimentar o alface. o roçar do dedo numa pele. na pele. a pele que entranha, elétrica. a única pele que te separa do outro, de outro mundo, de todo mundo, de todo outro. fina película que troca. que toca. o jazz que toca.

Comentários

KS Nei disse…
Yeah! Lido e relido!

Foto linda!

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preciso de um tanto de realidade pra que eu possa me agarrar feito uma tabuinha de salvação de mentira e não simplesmente escorrer como agora entre as frestas e as pernas do que eu quero ser e do que efetivamente está guardado pra mim porque tem gente guardando pra você lugares que você não quer e você nem sabe disso. e uma das piores coisas é quando querem negar sua existência, fingir que você não existe, te isolar num lugar em que você não incomode o outro com suas dores e desejos. e daqui a pouco a mesma ação que te isolou aparece na sua frente em forma de mão querendo te comprar com uma migalha de existência e você tem fome mas sabe que agora é preciso recusar. esquálido o esqueleto faminto dança pra disfarçar a leveza e chora lágrimas escondidas onde ninguém é capaz de visitar. essas águas são feitas de tempo e corroem os horrores para além de algum lugar em que talvez seja possível regar. a violência é pura e bruta e brota de um sorriso com a facilidade com que quer te presentea...
pra tudo quanto é lado é uma porrada de gente querendo ser compreendida ao mesmo tempo que não tá nem um pouco afim de gastar o tempo necessário pra compreender ninguém, nem mesmo alguém que se acha importante demais pra ser visto, percebido por você, que já tá de saco suficientemente cheio de não ser compreendido por ninguém e por isso precisa antes de mais nada que te compreendam e é isso aí e foda-se porque só aí, eu vou poder te olhar. ter tempo de te olhar. você aí seu babaca, pode olhar pra mim agora. a ordem da compreensão é minha. o mundo é cão. e vai te dizer: quem é você? aí você vai renascer. esquece o cara que tava falando com você. senta. respira. fuma até um cigarro. fuma dois. e vai perceber que a parada que mais quer evitar no mundo é a rigidez e o medo. o medo do caralho que enfeia as vidas, as veias e as pessoas. o medo que machuca muita gente de morte. quero um tombo bem dado e sangrante. que doa de viver. que machuque de tesão. ...