antes de agora, o que significa algum tipo de tempo atrás e a fronteira é sempre tênue, eu não tinha condição de gostar de jazz e me lembro disso com uma nitidez desconcertante. condição no sentido de que era completamente incompetente. e não me refiro aqui a algum tipo de competência contemporânea que te distingue do outro a ponto de atropelá-lo. falo de uma competência que te permite perceber, sentir, viver, escolher, entender. eu não sabia que era um texto, uma história, trocentas nuances, vidas e vozes. conversando, gritando, chorando, rindo, falando. o equilíbrio distante, a delicadeza e violência, arrebatamento, atravessar um linha entre dois pontos, mergulhar no maior dos abismos, a coragem de tentar. fazer. florescer. o mesmo fato que você vê, visto de dentro de outra pessoa. o fato que você não vê, visto de dentro de você, por outra pessoa. o outro fato que você vê, visto de dentro do outro em relação a você. que me vê do outro lado. contra a lei da gravidade, notas que flutuam, que apedrejam, que acariciam, que desnorteiam. à inversão do norte para que não rime com morte. sentir cheiro de terra molhada, olhar a nuvem passar, despertar, dançar, gozar, ver a sombra da nuvem no chão. ver albatroz cruzar o céu. um tomate pra cumprimentar o alface. o roçar do dedo numa pele. na pele. a pele que entranha, elétrica. a única pele que te separa do outro, de outro mundo, de todo mundo, de todo outro. fina película que troca. que toca. o jazz que toca.
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Foto linda!